Cantor segue carreira homenageando anos 90. Ele diz que se sentia ‘produto’ e lamenta estragos da vida artística: ‘Maioria de nós é depressivo’. Série ‘Quando eu hitei’ tem artistas que sumiram.

Quando eu hitei: Lou Bega, ‘Mambo number 5’ e a história do hit improvável
Em 1999, “Mambo number 5” chegou ao primeiro lugar nas paradas de mais de 20 países. Era uma canção de amor para uma mulher chamada Monica. E outra chamada Erica. E também para Rita, Tina, Sandra, Mary, Jessica…
O dono do tal mambo era Lou Bega, codinome do cantor David Loubega, hoje com 46 anos. “Em alemão, eu defino como werksverbindung. Soa muito técnico, certo? Mas é mais do que um werksverbindung, é a combinação de duas coisas boas”, explica Bega ao G1 (veja clipes e ouça entrevista no vídeo acima).
Não entendeu o porquê de Lou Bega estar falando alemão? É que ele é alemão, filho de mãe da Itália e pai de Uganda. Nascido em Munique em 13 de abril de 1975, ele vive em Berlim.
Na série semanal “Quando eu hitei”, artistas do pop relembram como foi o auge e contam como estão agora. São nomes que você talvez não se lembre, mas quando ouve a música pensa “aaaah, isso tocou muito”.
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Lou Bega, o cantor de ‘Mambo Number 5’, em foto recente — Foto: Divulgação/Mischa Lorenz
Voltando à expressão dita por ele, werk quer dizer “trabalho” e verbindung é “conexão”. O trabalho de Lou, neste caso, foi o de conectar o canto dele aos 30 segundos finais de uma música do cantor cubano Perez Prado (1916-1989), “O rei do Mambo”.
“A gente encontrou uma gravação dos anos 50. Era uma versão instrumental de Pérez Prado do ‘Mambo numero cinco’, certo?”, recorda.
Muitas das músicas de Prado não tinham título próprio, só se chamavam “Mambo”. Ele lançou o “Mambo number one”, “Mambo number two” e por aí vai, incluindo o “Mambo Number 5”.
“Naquele momento, sabíamos que tínhamos que pegar o sampler e adicionar uma nova música em cima dele. Tudo o que você ouve… ‘A little bit of Monica, a little bit of Erica’ e os versos são uma estrutura totalmente nova que foi colocada em cima do instrumental.”
Lou Bega no clipe de ‘Mambo number 5’ — Foto: Divulgação
Quando a música estourou, Lou Bega tinha 24 anos. Ele conta que viveu um fim de década bem intenso.
“Quando os anos 90 começaram, eu tinha 15 anos, tinha acabado de fazer 15. E, nos anos 90, eu era um adolescente, um pequeno adolescente estúpido muito inocente, sabe?”, descreve.
“Quando eu saí dos anos 90, em 1999 e 2000, quase ganhei um Grammy, cantei para o rei de Marrocos. Conseguia voar em um Concorde, no jato supersônico, três a quatro vezes por semana. Então, minha vida mudou completamente em dez anos.”
‘Macarena’, de novo?
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Lou Bega em 1999 e em 2021 — Foto: Divulgação/RCA Records
Lou Bega fez toda essa recapitulação para explicar que se sentia “em dívida” com os anos 90. Por isso, nos últimos anos, vem homenageando hits daquela época. “Macarena”, por exemplo, virou “Buena Macarena”.
“Eu senti que há músicas que eu queria recriar e colocar minha marca nelas”, justifica. “E ‘Macarena’ era uma delas, por mais maluco que isso pareça. Porque não era mesmo uma das minhas músicas favoritas no começo e eu até achei que era uma das mais enervantes.”
Lou veio só uma vez ao Brasil, no auge de “Mambo Number 5”, em 2000. Ele ensinou Xuxa a dançar, deu várias entrevistas, mas diz que não sabe direito o que rolou naquela viagem.
“Eu me lembro da alegria que as pessoas tinham só de conhecer minhas dançarinas, sabe? Era tipo, ‘uau, você é brasileiro, você é brasileira. Oh, uau. Gostoso, gostosa, obrigado’.”
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Capa do primeiro álbum de ‘Lou Bega’, ‘A little bit of mambo’, de 1999 — Foto: Divulgação
A empolgação dos brasileiros com as dançarinas de Bega era pelo fato de algumas delas serem brasileiras. As ligações com o Brasil, no entanto, vão além.
“No caso do “Mambo Mambo”, nosso terceiro vídeo, a gente até filmou no Brasil com capoeira e nas favelas, o clássico. Brasil é o meu lar musical e eu amo isso.”
Palhaço triste
Mas a entrevista teve momentos mais sérios. O cantor dá sinais de resiliência ao ser perguntado sobre viver o auge há mais de 20 anos e lidar com a pressão de repetir aquele sucesso. O quão enervante é ser cobrado para seguir a mesma fórmula?
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Lou Bega, o cantor de ‘Mambo Number 5’, em foto recente — Foto: Divulgação/Mischa Lorenz
“O que acontece é que você é um produto, você acaba se tornando uma marca, você tem que começar a aprender a trabalhar com isso, a gerar renda para uma massa de pessoas e a se tornar um artista independente artisticamente. E isso é um processo.”
Viver sorrindo em clipes e entrevistas tampouco é problema:
“Você sabe, nós artistas, temos um botão em algum lugar sob nossa pele. Precisamos fazer com que pareça fácil. Na realidade, não é fácil. A maioria de nós é bastante depressivo, tristes na maior parte de nossas vidas.”
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Lou Bega — Foto: Divulgação
“Olhe para todas as autobiografias de artistas. A maioria deles. Eles começam a beber muito cedo, certo? Ray Charles, Elvis, você sabe. Histórias sempre indo na mesma direção. Ou você encontra um equilíbrio espiritual, uma forma espiritual de se sentir bem consigo mesmo, para que possamos trazer alegria ao mundo na música.”
Futuro? Só se for burguer
E o que dizer do futuro, teria o cantor algum plano para antecipar? “Alguém, acho que foi Robbie Williams quem disse isto: se você quer fazer Deus rir de você, conte a ele sobre seus planos, certo? E é por isso que não há grandes planos.”
“Só tem isso aqui, meu amigo, planejo minha próxima refeição. É o bastante”, contenta-se Lou Bega, deixando claro que está em frente a um pratão de comida.
Existe algo mais improvável do que terminar a entrevista clamando pelo almoço? Provavelmente, o sucesso de um alemão cantando um mambo cubano em inglês com dançarinas brasileiras.
Por Braulio Lorentz, G1