Foto: Governo da China – 1º.fev.2020(via Fotos Públicas)
Documentos secretos do governo chinês publicados nesse sábado (20) pelo jornal norte-americano The New York Times e pela organização de jornalismo investigativo ProPublica mostram como o governo da China atuou para moldar a opinião pública e controlar a narrativa sobre a pandemia do coronavírus.
Um grupo hacker autointitulado “PCC sem máscara”, em referência ao PCC (Partido Comunista Chinês), foi o responsável por obter os documentos. O vazamento inclui 3.200 comunicados e 1.800 memorandos internos do governo. A autenticidade do conteúdo foi checada por jornalistas.
O material conta com mensagens enviadas por censores que trabalham para o governo chinês com ordens para que sites de notícias e redes sociais manipulassem conteúdos sobre a covid-19.
Os documentos também mostram que o governo da China chegou a ordenar que fossem feitos milhares de comentários falsos em redes sociais enfatizando a necessidade de discrição sobre o assunto.
A morte do médico Li Wenlia, que havia ficado conhecido por ter feito um alerta sobre o novo surto viral na China no início da disseminação, motivou orientações especiais do governo a veículos de jornalismo, plataformas de mídia social e servidores públicos.
Eis as instruções enviadas pelo Governo Chinês sobre o caso do médico Li Wenlia
“PARA SITES DE NOTÍCIAS E PLATAFORMAS DE MÍDIA SOCIAL”
“Não use notificações push, não poste comentários, não incite especulações. Controle com segurança o fervor nas discussões online, não crie hashtags, remova gradualmente dos tópicos de tendência, controle estritamente as informações prejudiciais.”
“AOS SERVIDORES LOCAIS DA PROPAGANDA”
“Devemos reconhecer com clareza o efeito borboleta, o efeito de janelas quebradas e o efeito bola de neve desencadeados por este evento, e o desafio sem precedentes que representa para nosso trabalho de gerenciamento e controle de opinião online. Todos os escritórios da Administração do Ciberespaço devem prestar atenção redobrada à opinião online e controlar resolutamente qualquer coisa que prejudique seriamente a credibilidade do partido e do governo e ataque o sistema político”.
Eis as mensagens enviadas a servidores locais que mostram orientações para comentários falsos na internet
DISTRITO DE XIAOSHAN (12.fev.2020)
“Mobilizar comentaristas online para comentar e orientar mais de 40.000 vezes, eliminando efetivamente o pânico dos residentes da cidade, aumentando a confiança nos esforços de prevenção e controle e criando uma boa atmosfera de opinião pública para vencer a batalha contra a epidemia.”
CONDADO DE TONGLU (13.fev.2020)
“Em 13 de fevereiro, nosso condado publicou 15 postagens desmascarando boatos, repostou 62 desmascarando boatos, 16 pessoas foram investigadas por órgãos de segurança pública, 14 pessoas foram educadas e advertidas, duas pessoas foram colocadas em detenção administrativa…”
DISTRITO DE FUYANG (início de fevereiro)
“Mobilizar a força de mais de 1.500 ciber-soldados em todo o distrito para relatar prontamente informações sobre a opinião pública em grupos WeChat e outros círculos de bate-papo semiprivados.”
Eis outras mensagens que mostram orientações para controle da narrativa sobre a Covid-19
“PARA TODOS OS WEBSITES DE NOTÍCIAS”
“Em relação à epidemia de pneumonia causada pelo novo coronavírus, todos os sites e novas mídias devem estar atentos à proteção da privacidade ao notificar casos confirmados e óbitos, para não nomeá-los, evitando o uso de fotos e imagens reais de pacientes e processamento técnico adequado. É preciso padronizar as fontes de informação, evitar o uso de expressões como ‘os médicos pensam’ e tentar apontar fontes específicas de informação. Não use títulos como ‘incurável’ e ‘fatal’ para evitar o pânico social.”
“PARA TODAS AS MÍDIAS DE NOTÍCIAS”
“1. Todos os relatos da mídia sobre os casos relatados de inação e quadros dos departamentos relevantes e obstrução da prevenção e controle da epidemia devem ser moderados e, em princípio, não coletados.
2. Ao reportar sobre medidas de prevenção e controle, como viagens restritas, acesso controlado, etc., a mídia não usa termos como fechamento de cidade, fechamento de estrada, fechamento de porta e lacre.
3. A fiscalização da opinião pública sobre a implementação de medidas de controle de base deve ser moderada e, em princípio, deve se refletir nos canais internos.
4. Em relação ao progresso da pesquisa de medicamentos para o tratamento de novos coronavírus, os relatórios devem ser baseados em informações oficiais emitidas pelo Departamento Nacional de Saúde. A eficácia dos medicamentos que não foram colocados em uso clínico deve ser apreendida com cuidado e as notícias online não devem ser reimpressas à vontade.”
“… ao relatar sobre limites de viagens, controles de movimento e outras medidas de prevenção e controle, não use formulações como bloqueio, fechamento de estradas, portas seladas ou lacres de papel.”
“PARA TODOS OS SITES E APLICATIVOS DE NOTÍCIAS”
“Notícias negativas sobre a prevenção e o controle da “nova epidemia de pneumonia coronária” não podem aparecer em todos os sites, clientes e outras novas mídias e plataformas de aplicativos. Se for necessário relatar, use apenas as informações oficiais do Diário do Povo, Agência de Notícias Xinhua, CCTV, Comissão de Saúde, Ministério das Relações Exteriores e outros departamentos relevantes, bem como os departamentos relevantes da Província de Hubei e da cidade de Wuhan. Nosso escritório intensificará as inspeções e a supervisão e, se forem encontradas violações de notificações pop-up, elas serão tratadas imediatamente. O conteúdo das instruções acima deve ser implementado de forma rápida e estritamente confidencial.”
“Não use notificações pop-up para quaisquer notícias negativas sobre a prevenção e controle da nova epidemia de coronavírus.”
Poder 360