Em busca de se manter na presidência do Senado, posto que tem ocupado nos últimos 12 anos, o MDB tenta chegar a um consenso na noite desta quinta-feira (31) e definir quem disputará a eleição de sexta-feira (1º) como representante do partido.
A sigla tem 13 senadores, mas, como está fragmentada, teme ver interrompida a tradição de que a maior bancada comanda a Casa.
Fora do governo e sem ter conseguido reeleger nomes como o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE), e o presidente da sigla, Romero Jucá (RR), o MDB tem nesta eleição sua principal perspectiva de manutenção de poder.
Nas duas últimas eleições, o partido havia chegado à véspera da disputa com consenso na bancada. Primeiro, Renan foi o presidente e Eunício o líder da bancada. Depois, eles inverteram as funções. Agora, não há previsão de nada parecido.
Renan já declarou não ter interesse na liderança e Tebet deixou o posto nesta semana.
Até o momento, há nove nomes na disputa —Renan Calheiros (MDB-AL), Simone Tebet (MDB-MS), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Alvaro Dias (Pode-PR), Esperidião Amin (PP-SC), Angelo Coronel (PSD-BA), Major Olímpio (PSL-SP) e Reguf fe (sem partido-DF). O senador Fernando Collor (AL), que nesta semana trocou o PTC pelo Pros, não admite candidatura, mas é dado como candidato por outros senadores.
A quarta-feira (30) foi de conversas e discussões sobre questões jurídicas que devem ser levantadas durante a sessão marcada para sexta.
Um dos partidos mais visados era o PSD, que chegou a dez senadores e tornou-se a segunda maior bancada.
O presidente da sigla, Gilberto Kassab, esteve com Renan e Eunício Oliveira (MDB-CE) no início da semana e havia prometido maioria dos votos para o alagoano. No entanto, integrantes do partido dizem que ele deve ter apoio de apenas cinco deles.
A partir das 17h, no MDB, Renan e Simone medem forças diante de seus correligionários.
Ele tem a seu favor a habilidade política de ter sido presidente do Senado quatro vezes e a postura de firme na defesa dos seus pares diante da Justiça.
Apesar de agora se dizer um liberal e favorável às reformas, contra Renan há desconfiança do governo Jair Bolsonaro, além da pressão popular que cobra renovação e levanta bandeira anticorrupção. O senador tem no currículo 18 inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal), nove deles arquivados.
Tebet abraçou a bandeira da renovação política, que garantiu a reeleição de apenas 8 senadores e trouxe 46 novos nomes para o Congresso.
Ela também aposta nas mobilizações #foraRenan e na resistência de outras legendas em apoiar o emedebista.
Mas Tebet chega à reunião que começa no fim da tarde fragilizada pela derrota do início da semana.
Na reunião que o MDB fez na na terça-feira (29), ela foi minoria ao defender que a votação de sexta seja aberta.
O voto fechado —ou seja, secreto— beneficia Renan, já que muitos que o apoiam não fazem isso publicamente para evitar desgaste com as bases.
Senadores anti-Renan reúnem-se pela manhã para discutir se todos manterão suas candidaturas e para afinar posicionamentos diante de questões que serão levantadas no dia da eleição.
Alguns nomes cogitavam abrir mão da disputa para apoiar Tebet, caso ela saísse vitoriosa na bancada. Se isso não acontecer e, mesmo assim, ela resolver tentar como candidata avulsa, esses senadores agora devem se manter no páreo.
Com apoio do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Davi Alcolumbre vem trabalhando para ganhar musculatura e é vendido como o candidato do governo, o que já provocou reclamações de integrantes do partido de Bolsonaro, o PSL, que lançou Major Olímpio.
“A orientação do presidente é não interferir”, afirmou o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República.
Alcolumbre é o único remanescente da Mesa Diretora da legislatura que se encerra nesta quinta e, por isso, tem previsão regimental para presidir a votação.
Acontece que, como também é candidato, o senador vem sendo alvo de críticas de aliados de Renan e este ponto vai ser um dos objetos de questionamento que devem dominar o início da eleição.
A expectativa é que outros dois tópicos sejam questionados no início da sessão: a votação secreta e o número de votos necessários para definir a eleição, se maioria simples ou absoluta (41 votos).
As chamadas questões de ordem provocam longas discussões e podem ser decididas no voto, atrasando a disputa principal, pelo cargo de presidente.
Adversários de Renan querem usar as votações para avaliar as chances do senador e, diante da perspectiva de sucesso dele, não descartam esvaziar a sessão e adiar a eleição.
FOLHAPRESS