Os 25 clubes que tiveram contrato de patrocínio com a Caixa Econômica Federal em 2018 receberam um aviso no final do ano passado. O banco não renovaria os acordos em 2019.
Por isso os dirigentes não ficaram surpresos com a afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o dinheiro da instituição estatal pode ser melhor aplicado.
“Às vezes, é possível fazer coisas 100 vezes melhores com menos recursos do que gastar com publicidade em times de futebol”, disse Guedes nesta segunda-feira (7), durante a posse do novo presidente da Caixa, Pedro Guimarães.
Cartolas dos clubes das Séries A e B do país estão divididos. Todos gostariam de continuar com o banco, mas existem os alarmados com a provável perda de receita e os que não perdem o sono.
“A Caixa nos informou que não vai continuar. O que nos pagaram não foi um valor fora da realidade. Se tirar os impostos, são R$ 100 mil mensais. O ministro pode ficar tranquilo que a Caixa não vai quebrar por causa do CSA”, disse Rafael Tenório, presidente do clube alagoano.
“Preocupa [a saída] porque fazemos planejamento com isso. O patrocínio é bom para o banco”, opina Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
A instituição estatal injetou no futebol R$ 191,7 milhões em 2018, segundo levantamento feito pelo Diário Oficial. Os dados incluem, além dos clubes, patrocínios para os torneios estaduais no Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe, Copa Nordeste e Copa Verde.
Dos times que ficaram sem verba da Caixa no ano passado, somente tinham patrocínio principal fixo Chapecoense, Palmeiras, São Paulo, Grêmio e Inter (os dois últimos de banco do governo do Rio Grande do Sul). Corinthians, Fluminense e Vasco tiveram anunciantes pontuais.
“A Caixa não entrou para fazer negócio, foi um assistencialismo do governo. Tanto que não há divulgação positiva para o banco, como um estudo que vendeu mais para torcedores do time X. Como não teve essa visão, o novo governo quer demonstrar austeridade”, diz Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM em São Paulo.
Nem todos os clubes concordam com essa visão de que a o banco estatal não teve retorno com os patrocínios.
“O Repucom [métrica que determina a aparição dos patrocínios de futebol na mídia] mostra que houve imagem positiva para a Caixa. Acho que o ministro Paulo Guedes está coberto de razão. Mas na hora que o presidente da Caixa disser que o patrocínio foi bom para o banco, essa ideia pode ser revista com valores diferenciados”, afirma Marcelo Almeida, presidente do Goiás.
Segundo o dirigente “é preciso haver uma democratização na distribuição do dinheiro”. O Goiás recebe R$ 4 milhões e Flamengo, R$ 32 milhões. “É dinheiro demais [para o time do Rio]”, se queixa.
Considerado o faturamento de R$ 595 milhões do Flamengo em 2017 (segundo estudo do Itaú BBA), os R$ 32 milhões da Caixa representam 5,4% da receita anual. Menos do que o Ceará, que tem nos R$ 6,7 milhões pagos pelo banco 24,8% da arrecadação anual.
Há quem veja incompetência em angariar investidores. Nas décadas de 1980 e 1990, multinacionais como a Coca Cola e, nos anos 2000 montadoras de carros disputavam as camisas. Hoje as equipes recorrem a empresas menores.
“Você não vê um grande banco, a grande montadora em um clube brasileiro, como estão nas camisas dos europeus. Eles preferem anunciar nos principais veículos de comunicação, na TV aberta e por assinatura, na internet”, afirma Martinho, da ESPM.
A Globo vendeu seis cotas no valor de R$ 310 milhões cada para o futebol em 2019. O pacote inclui a Copa América. A emissora renovou com Ambev, GM, Hypermarcas, Itaú e Vivo. A varejista Casas Bahia entrou no lugar da Unilever.
Sem as grandes marcas, os clubes dividem o espaço no uniforme e tentam lucrar no atacado. Prática antes restrita aos times do interior, o fatiamento dos uniformes, com publicidade nos ombros, costas, numeração, traseira e frente do calção e meia, é feito pelas equipes da Série A.
Empresas menores conseguem comprar um dos espaços nos uniformes. É o caso da marca de bebidas Poty, do interior paulista, que trocou o calção do São Paulo, em 2018, pelo do Corinthians, em 2019, por R$ 2 milhões. Ou a Kodillar, que por R$ 600 mil anuais, estará na meia do Santos.
“Se você tem milhões para investir, estar na TV é importante. Caso contrário, as empresas vão para o marketing de guerrilha. Uma inserção no horário nobre da Globo custa entre R$ 300 mil e R$ 350 mil, duas inserções dessa podem tomar todo um investimento que seria possível fazer em um clube por um ano”, afirma Fábio Wolff, diretor da Wolff, que intermediou o acordo entre o Corinthians e Poty.
“Algumas empresas passam a ver o futebol, como possibilidade. Não são líderes em seu segmento, mas almejam um dia ser”, completa.
Há clubes que já começaram a se preparar no final do ano passado para a vida pós-Caixa. O presidente do Cruzeiro, Wagner Pires, afirma que os contratos de patrocínio para o uniforme da equipe em 2019 estão quase completos.
A situação é mais complicada para Botafogo e Santos, grandes da Série A que não têm patrocínio master para substituir o banco estatal.
“Temos de respeitar a política da empresa. Se não continuar patrocínio para ninguém, tudo bem. Mas se acabar para alguns e continuar para outros, aí vou ficar indignado”, afirma Robinson de Castro, presidente do Ceará.
Procurada pela Folha, a assessoria da Caixa disse que os contratos vigentes ou encerrados estão em reavaliação.
FOLHAPRESS