29 - dez/18

O delegado Cleyber Malta, que indiciou o presidente Michel Temer no inquérito dos portos, vai chefiar o grupo da Polícia Federal responsável pela investigação sobre políticos.

Malta é visto pelo novo diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, como peça-chave para o trabalho de apuração e por isso será promovido.

O anúncio deve ser feito no início do ano que vem, após a posse, marcada para o dia 2 de janeiro.

O setor é tido como essencial para o combate à corrupção, bandeira que o futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, definiu como prioridade.

A equipe que agora será chefiada por Malta, conhecida pela sigla SINQ (Serviços de Inquéritos Especiais), é responsável por investigar perante o STF (Supremo Tribunal Federal) crimes cometidos por ministros e políticos em exercício do mandato.

A nomeação faz parte de uma mudança que Valeixo vai fazer para solucionar a crise instaurada no grupo, como mostrou reportagem da Folha.

Malta terá dois chefes a quem prestar contas: um deles deve ser Marcio Anselmo, um dos responsáveis pelo início da Lava Jato, que é o coordenador-geral de Repressão à Corrupção e deve ser mantido; e o outro já certo é Igor de Paula Romário, que chefiou praticamente todas as operações da Lava Jato e será o novo diretor de Combate à Corrupção (Dicor).

Diferentemente do que o atual diretor-geral Rogério Galloro vem dizendo em comunicados internos e entrevistas, o setor sofreu com diminuição de pessoal e com desentendimentos.

Antes com 13 equipes montadas para as investigações, cada uma com um delegado, escrivães e agentes, esse time hoje conta com apenas cinco equipes fixas.

Alguns delegados deixaram o setor, sob justificativa de licença capacitação –houve seleção para mais seis delegados, mas só duas pessoas se inscreveram.

Servidores do grupo foram colocados compulsoriamente em sessões de terapia, diante da análise de que estavam sob efeito de muito estresse. A decisão foi tomada pela diretoria e foi interpretada internamente como falta de respeito.

O principal ponto de tensão no trabalho de Malta se deu em torno do inquérito sobre Michel Temer no suposto esquema no porto de Santos.

A investigação causou a principal polêmica da gestão de Fernando Segovia, resultando em sua queda —ele ficou apenas três meses no cargo. Em entrevista, o então diretor afirmou que não havia indícios contra o emedebista. Em reação, o grupo enviou um memorando repudiando interferências nas investigações.

Apesar de dizer enxergar erros na gestão anterior, a equipe de Galloro, que sucedeu Segovia, chamou de “rebelião” o movimento e enxergou no episódio uma traição hierárquica. O principal personagem do caso era justamente Malta.

A relação entre o delegado e a direção nunca melhorou.

Em outubro, ele indiciou Temer por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa –o indiciamento é um ato formal em que a autoridade declara que existem indícios suficientes de ocorrência de crime. Também foi indiciada uma das filhas do presidente.

O ato causou surpresa dentro da PF e foi mais um ponto de atrito com a direção.

Desde 2007, havia uma proibição do STF de a polícia fazer, por conta própria, o indiciamento de autoridades com foro especial, como presidente da República. O ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito, autorizou o indiciamento e o manteve, mesmo com reclamação da defesa de Temer.

Folhapress