08 - jul/19

Por PVC / FOLHA SP

Anitta entrou em campo, cantou antes do início do jogo entre Brasil e Peru, e não era Carnaval. Neymar, portanto, não estava por perto, no gramado. Logo depois, o telão mostrou João Gilberto, e o Maracanã disse “chega de saudade.” A seleção em campo na sua velha casa, depois de seis anos de ausência, foi um brinde ao futebol.

Muito mais do que a apresentação do time de Tite, que começou com divórcio entre defesa e ataque, o que permitiu aos peruanos duas finalizações em dez minutos.

Havia melhorado com a troca de passes insistente e aproximação do meio de campo, quando Gabriel Jesus recebeu pela direita, sem apoio, sem opção de passe e contra três marcadores. Tudo para dar errado, mas o drible saiu perfeito e o cruzamento mais ainda. Everton marcou 1 a 0.

E, então, o primeiro tempo arrastou-se, como se fosse o famoso jogo de 1957, da folha seca de Didi. A única chance foi de Firmino num cruzamento de Alex Sandro, antes de o Brasil voltar a chamar a seleção peruana para perto de sua grande área.

Nunca faltou habilidade aos peruanos. Nem nos tempos dos pontas Seminario e Joya, na década de 1950, nem com Cubillas, nos anos 1970, nem com Carillo e Edinson Flores, na geração atual. Permitir que entrassem driblando era arriscar. Thiago Silva colocou o braço na bola e Guerrero empatou de pênalti.

Houve a frieza que Tite sempre cobrou. Que a equipe não deixasse de usar seu estilo. Trocar passes.

Assim como a seleção esperou até a semifinal pelo gol de Gabriel Jesus, aguardou até a finalíssima pelo primeiro passe decisivo de Arthur. Foi quem serviu o camisa 9, para deixar a vantagem aos 46 da etapa inicial.

Mas o Brasil não jogou bem. Não teve a mesma segurança para sair da defesa pelo chão, entregou passes fáceis com Alex Sandro e Alisson, deu um festival de passes errados no segundo tempo. Apesar de ter 57% de posse de bola, houve momentos em que a única alternativa era o contra-ataque. Piorou depois da expulsão de Gabriel Jesus, no minuto 70.

Alguma estabilidade houve depois da saída de Coutinho, com Militão deslocando Daniel Alves para o meio de campo com duas linhas de quatro.

A atuação contra o Peru foi arrastada. O título é importante. Mas só vale o discurso de que finais são para ganhar, não para jogar, levando em conta que a Copa América seja uma etapa do trabalho até o Catar. Das seis atuações, a mais valiosa foi contra a Argentina, pela dificuldade imposta pelo rival. Na decisão, o valor foi a partida ser decidida por três meninos. Gabriel Jesus, 22 anos, deu o passe do primeiro gol para Everton Cebolinha, 23. Arthur, 22, deu seu primeiro passe para gol. Richarlison, 22, cobrou o pênalti e fez o gol do título com a frieza de um veterano.

Os garotos ganharam uma final guerreada. Cria casca, ajuda a dar maturidade a quem poderá ser mais do que apenas coadjuvante. Vencer com eles e sem Neymar permite imaginar que, em alguns anos, pode haver um outro protagonista. O Brasil nunca foi refém de um único craque. Para cumprir as próximas etapas e ser campeão do mundo –o que interessa, afinal– é preciso ver nascer outra estrela. Apesar da expulsão, quem se comportou como gente grande nas finais foi Gabriel Jesus.