22 - jan/19

Ao centro, Flávio Bolsonaro aparece com o pai, o técnico de futebol Carlos Alberto Parreira e o apresentador Wagner Montes na inauguração da loja de que é sócio no Rio de Janeiro
Ao centro, Flávio Bolsonaro aparece com o pai, o técnico de futebol Carlos Alberto Parreira e o apresentador Wagner Montes na inauguração da loja de que é sócio no Rio de Janeiro – Divulgação

 

O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) construiu seu patrimônio antes de se declarar empresário, de acordo com informações cartoriais, da Justiça Eleitoral e da Junta Comercial do Rio de Janeiro.

O ainda deputado estadual é sócio da Bolsotini Chocolates e Café Ltda, uma franquia da Kopenhagen no Via Parque Shopping, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

De acordo com a Receita Federal, a empresa foi aberta em 7 de janeiro de 2015 e tem mais um sócio.

Essa foi a única atividade empresarial que o senador eleito declarou em toda a sua trajetória política, desde 2002.

Fabrício Queiroz, ex-motorista do deputado estadual, é investigado sob suspeita de ser o pivô de um esquema ilegal de arrecadação de parte dos salários de servidores do gabinete, prática conhecida como rachadinha.

A partir da investigação, o Ministério Público do Rio solicitou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) relatório sobre as contas de Flávio. O levantamento apontou 48 depósitos de R$ 2.000para o deputado entre junho e julho de 2017.

Em entrevista à TV Record no domingo (20), o filho do presidente Jair Bolsonaro afirmou que tentam de “forma baixa” insinuar que a origem de seu dinheiro tem a ver com ex-assessores de seu gabinete.

“Não tem. Explico mais uma vez. Sou empresário, o que ganho na minha empresa é muito mais do que como deputado. Não vivo só do salário de deputado”, afirmou o senador eleito.

Como mostrou a Folha no ano passado, Flávio fez pelo menos 20 transações imobiliárias em 14 anos, entre compras, vendas e permutas.

A maior parte das aquisições ocorreu antes de 2015, segundo dados de cartório. Em alguns casos, o parlamentar fez dívidas e só as quitou depois, quando já tinha a loja.

Segundo a assessoria da Kopenhagen, “o retorno do investimento aplicado ocorre de dois a três anos após o início das atividades”. Ou seja, no caso de Flávio, só começaria a ocorrer em 2017 ou 2018.

Folha apurou com pessoas familiarizadas com esse tipo de franquia que o faturamento bruto (não descontados os impostos e outras despesas) é de cerca de R$ 60 mil ao mês. A Kopenhagen não divulga faturamento de seus franqueados.

Folha perguntou a Flávio se ele exerce mais algum trabalho além da sociedade na filial de chocolates e o mandato. A assessoria informou que ele não se manifestaria.

Uma reportagem da revista Piauí, de setembro de 2016, relata que o deputado estadual entregou um cartão de sua filial na Barra da Tijuca e chamou a atividade de plano B.

“A gente nunca sabe quanto tempo vai permanecer na política e é importante ter um plano B”, afirmou.

Atualmente, o salário de um deputado estadual do Rio é de R$ 25,3 mil brutos.

Na última declaração de bens, de 2018, Flávio disse ter R$ 1,74 milhão —considerando o fato de que ele diz ser dono de apenas 50% dos imóveis, já que é casado em regime de separação de bens.

Ele entrou na vida política em 2002, com apenas um carro Gol 1.0, declarado por R$ 25,5 mil.

Entre 2012 e 2014, Flávio teve uma intensa movimentação imobiliária.

Suas duas últimas grandes aquisições, um apartamento no bairro de Laranjeiras e outro na Barra da Tijuca, no Rio, ocorreram antes de 2015.

Os dois imóveis foram registrados ao custo de R$ 4,2 milhões. Nos dois casos, o filho de Bolsonaro pediu empréstimos, um na Caixa e outro no Itaú, respectivamente.

Segundo a versão de Flávio, a dívida de R$ 1 milhão com a Caixa foi quitada em 2017.

Valor aproximado foi detectado em um segundo relatório do Coaf, divulgado pelo Jornal Nacional, da TV Globo, sobre movimentações atípicas na conta do filho do presidente. Segundo a reportagem, o órgão não identificou a data exata e o beneficiário.

Flávio não explicou a origem do dinheiro pago à Caixa.

Após 2015, documentos de cartório mostram que houve apenas uma permuta feita por Flávio e uma venda. Ele se desfez do imóvel das Laranjeiras, em troca de um na Urca e também de uma sala comercial na Barra, bairros do Rio de Janeiro. O parlamentar ainda recebeu um valor de R$ 600 mil na operação. Em maio 2018, o apartamento da Urca foi vendido, por R$ 1,1 milhão.

Além de dizer que o retorno de investimento demora entre dois e três anos para ocorrer, a Kopenhagen informou ainda que para aquisição de uma franquia nos moldes da do filho do presidente da República é cobrada uma taxa de R$ 45 mil, além de investimento de R$ 350 mil, mais R$ 100 mil de capital de giro.

A Folha enviou no começo da tarde desta segunda (21) cinco perguntas para a assessoria de Flávio.

Além de questionar se há outra atividade desempenhada pelo parlamentar, a reportagem perguntou o valor do lucro líquido da loja, se ele teve alguma fonte de renda antes de 2015 que auxiliou nas aquisições e a origem do R$ 1 milhão utilizado para quitar o empréstimo com a Caixa.

Ele disse que não iria se manifestar.

FOLHAPRESS