O interrogatório do médium João de Deus na delegacia de Investigação Criminal de Goiás, na noite de domingo, foi marcado por momentos de tensão. Quando começaram a confrontar o líder espiritual com as denúncias de abuso sexual, o computador usado pelos investigadores para registrar o depoimento começou a dar problemas, o teclado travou em algumas letras e a impressora começou a imprimir sem que tivesse recebido qualquer comando, relataram ao GLOBO os investigadores.
Em determinado momento, houve um curto circuito na sala da delegacia, quando a delegada Karla Fernandes, que conduziu a oitiva do médium, tentou ligar uma extensão conectada ao ar-condicionado. Até um frigobar da sala queimou.
— Começou dando um problema no computador, no teclado do computador, uma letra ficou travada. Mas o depoimento não chegou a ser prejudicado — tranquilizou o delegado-chefe da Polícia Civil de Goiás, André Fernandes, no dia seguinte ao ocorrido.
Segundo os investigadores, os “incidentes” estruturais na delegacia acabaram perdendo o ar de imprevisto por se tratarem de João de Deus. Dois fatos anteriores, envolvendo um fotógrafo de uma agência estrangeira e um escrivão da polícia, já tinham antecipado o clima de mistério.
O escrivão foi atropelado quando seguia para o trabalho, em Anápolis, onde inicialmente a polícia pretendia colher o interrogatório do médium. Ele quebrou o braço com o impacto. Na noite de sexta-feira, correu na cidade de Abadiânia que espíritos haviam amaldiçoado “um povo” que passara o dia “vigiando” a casa de João de Deus, à espera que médium se entregasse à Justiça após a decretação de sua prisão.
“O povo” era uma equipe de jornalistas e fotógrafos que dava plantão no local desde às 5h da manhã, e só saiu por volta 22h30 horas depois que um fotógrafo de uma agência estrangeira teve um mal súbito, desmaiou e ficou desacordado por alguns minutos.
A imprensa deixou então lo local às pressas para levar o fotógrafo ao hospital. Em minutos, corriam boatos na cidade sobre o episódio, sempre associados aos “poderes de João de Deus”.
O GLOBO